terça-feira, novembro 08, 2011

Intruso

Ela o esperava, alegre que só, a menininha faceira. Como uma criança espera o papai Noel na véspera de natal, se bem que ele era o próprio presente. Amigo de infância, a história dos dois é daquelas que você lê em livros e suspira. Um romance inocente, pleno. Calmo como as águas de um lago profundo. O sorriso se estendia pelos lábios cada vez que ela lembrava do primeiro beijo, em baixo daquele abacateiro no outono daquele ano que ficou no passado e no presente dos dois. Coraçãozinho dá salto no peito, ele se aproxima. O cabelo negro lhe cobrindo os grandes olhos azuis como céu de verão; de longe se via luzir os dentes expostos em seu rosto. O menino dela.

- Fiquei o dia todo esperando para te ver.

- Ainda é cedo da tarde, meu querido.

- Pois me foram as horas mais longas.

E eles se entendiam no olhar, se conheciam como música conhece melodia, sempre em sintonia. Eram brisa, calmaria. Não precisavam de nada, e tinham tudo. Só que o nada veio, e mudou esse tudo que construíram. O nada era vendaval, tempestade, arrastava o que podia consigo. Água turbulenta de mar em noite escura, não deixava de ser profundo como as do lago. Porém, bem mais forte, meu caro. Olhos negros como dois ônix valiosos bem a mostra, para hipnotizar quem, por descuido, se atrevesse a os encarar. Não pensava, pesava, e fazia estragos. Roubou o coração da menina faceira, fez de refém, ela bem lutou, esperneou, tentou correr. Mas tem coisas que não se pode lutar contra, chegam, só chegam, assim, que nem visita inesperada. E dói, te faz tornar-se masoquista.

- Eu te amo, eu te amo tanto que me dói.

- Somos como sol e lua, minha pequena.

E eram. Foram. São. Precisavam um do outro, e só disso sabiam. Coração destroçado foi o que não faltou. Mas que intruso maroto e trapaceiro é esse tal do amor, não é verdade?

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