Tenho tanta coisa tua guardada em tanto lugar. Um livro na estante, mais dois no sofá, algumas fotos antigas em uma caixa naquela gaveta do fundo, onde costumo guardar coisas importantes, como restos de sorrisos e lembranças. Tenho cartas amassadas em alguma parte bem escondida pra ninguém encontrar, nem mesmo eu.
Aquele teu perfume barato comprado na farmácia aqui em frente continua no armário do banheiro, assim com seu cheiro ainda está nos lençóis que já esconderam nossos segredos. Mantenho também sua xícara em cima da mesa, onde deixaste pela ultima vez que te vi ali sentado, com aquele sorriso de menino que fugiu de casa, cantarolando uma música quase como um rouxinol resfriado, ela ainda está com resto de café quente, agora frio, e quilos de açúcar no fundo.
Tuas roupas ficarão no guarda-roupa que permanecerá fechado, até que tu resolvas voltar para procurar aquela camisa branca que te dei no natal do ano passado, lembro-me como me dizias que era tua favorita. Será que era verdade, querido, ou escapavas essas palavras apenas para ver meu sorriso satisfeito? Lembro-me como gostavas de ver-me feliz, principalmente quando tu era a causa de tal. Deixe-me te dizer… Sempre foste tu.
Teu tênis está jogado na sala de estar, perto da mesinha do telefone ao lado da poltrona que sentavas para tentar assistir futebol, enquanto eu acariciava teu cabelo de pequenos cachos dourados, fazendo assim teus olhos escaparem da TV pra mirar os meus verdes brilhantes. Será que alguma vez ouviste o palpitar do meu coração quando, com esses teus profundos negros cheios de segredos, dizias sem palavras que me amavas, em sussurros que precisavas de mim? Ele saia de meu controle, querido, ele era teu. Ainda é. E creio que será para sempre.
Tenho tanta coisa tua aqui, e não tenho mais nada que seja meu, pois mesmo tu faltando, eu vivo para ti. Para te esperar entrar pela porta sem fazer ruídos e dar-me sustos enquanto preparo para o jantar teu prato preferido. Eu continuo o preparando, todas as noites, quem sabe sintas o aroma e voltes. Visto a camisola daquela primeira vez que desvendaste o meu segredo, e me deito, deixando teu lado preparado com teu travesseiro preferido. As luzes apagam. O quarto está frio. O porta-retratos no chão. As roupas espalhadas. A ausência aconchegada. E eu… Reviro na cama saudade tua.
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