O tempo estava fechado, mas mesmo assim, vez ou outra, o sol aparecia por entre as nuvens, tímido, porém sorridente, naquele gostoso frio de agosto. Eu estava no ponto de ônibus, esperando-o para poder ir para casa após uma longa e cansativa manhã de provas na escola. Perdi-me pensando sobre várias coisas, meus pensamentos estavam como um novelo de lã enrolada. Iam desde textos que li, até os próximos que eu escreveria… O meu ônibus ainda demoraria, mas meus olhos estavam fixos, olhando para o lado que ele viria, o tempo pouco me importava, na verdade nunca fui daquelas pessoas apressadas. Quando escutei uma vozinha, fina, como uma oitava difícil de alcançar. Ela me perguntava toda desinibida se o ônibus ainda demoraria a vir, sorri para ela, com toda a educação e apenas disse “não muito”. Ela se sentou ao meu lado. Senti-a inquieta, talvez fosse minha impressão, mas ela parecia ser daquelas meninas que gosta de uma conversa, mesmo com pessoas desconhecidas… Eu nunca fui desse tipo, sempre mais na minha, calada, sozinha, gostava de ser assim, a solidão e o silencio, para muitos, pode ser um grande inimigo amigo da infelicidade, para mim não, sempre foram meus amigos, companheiros da tranquilidade e dos sorrisos mais ingênuos, quando me permitiam viajar por aqueles pensamentos distorcidos e criar aquelas histórias fantasiosas que eu tanto gostava. Admiro muito quem é desinibido, sabe o que diz, sinto que esses são os mais seguros de si… Não me importo de ser o oposto, o meu amigo silencio, é um ótimo protetor.
Então, voltando à menina desinibida, ficamos lá. Por talvez uns 20min, ou menos, como disse, o tempo pouco me importa, de qualquer forma ele é relativo. O que para mim foram poucos 20min, para a pequena menina, poderiam ter parecido longas horas. É… Eu não sou uma boa companhia, creio. Confesso, não me lembro de seu rosto, nem a olhei direito, não presto atenção em detalhes desnecessários, sei que tinha cabelos negros como café forte, e era magra e pequena. Enfim, meu ônibus se aproximava, a pequena se levantou junto comigo e entrou em minha frente, apressada. Mas seus passos eram firmes, não tortos e desequilibrados como os meus, que parecia estar caminhando sobre uma corda bamba o tempo todo. Sentei-me ao fundo, ela passou a frente. Meus olhos vagavam janela a fora, observando os carros e as pessoas passarem, imaginava para onde cada uma delas estaria indo, de onde vinham, o que pensavam, como eram suas vidas. Não que eu me importasse, mas essa curiosidade muda sempre andou lado a lado comigo. Em algum momento meus olhos bateram com os dela, fingi indiferença, mas percebi que eram pretos como uma noite sem lua, ah, menina, somos tão diferentes, meus olhos são claros como as folhas escuras de uma árvore. A pequena continuava sentada, e eu me perguntava se nunca iria descer, passei por ela, cheguei mais perto da porta, assim não tinha o perigo de me confundir e esquecer de descer, ou descer no lugar errado a uma boa distância de casa. O fim da linha chegou para mim, felicidade me inundou quando o ônibus parou no ponto onde eu descia, meu estomago revirava de fome, e minha mãe, eu sabia, estava me esperando naquela esquina como sempre fazia, com um sorriso no rosto. Já falaria comigo mesmo eu estando uma boa distância dela, suas palavras sairiam ininteligíveis para mim, mas eu sorriria igualmente animada – afinal, eu fui bem naquela prova difícil que eu sabia, seria o assunto durante o almoço – apenas assentiria com a cabeça, eu não precisava entender para saber o que era. Quanto a menina, quase ia me esquecendo, desceu junto comigo, talvez more perto da minha casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário